O “Alfa” da Auditoria Interna

Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Auditor Federal de Finanças e Controle/
Doutor em Políticas Públicas (UFRJ)

Pela independência necessária ao exercício de sua função, que lhe permite, mesmo que pautado por parâmetros, escolher o que vai verificar e em que profundidade, bem como as soluções que irá propor, pode-se dizer que a atuação do auditor interno se reveste de um micropoder.

 

Micropoder (Sua benção, São Foucault!) que se converte em um superpoder, em tempos estranhos nos quais se busca ver nesse agente um xerife, um moralizador, um herói moderno que bota ordem na casa, caçando erros com a sua lupa. Nada mais distante do que apregoa os cânones formais da nossa profissão.

 

Nesse contexto, o auditor interno, por vezes, é tentado a assumir uma postura de “Macho Alfa” na organização, se tornando não só um ente incontestável, mas que cultiva o péssimo hábito de conduzir o seu trabalho motivado por questões pessoais, oriundas do relacionamento cotidiano. Coisa menos profissional não pode haver.

 

Assim, aquele setor que foi objeto de conflito com o auditor no ontem, se vê retaliado por uma auditoria que bate a sua porta. O outro, que tem diferenças pessoais com o auditor, recebe comentários maldosos sobre seu setor no relatório. E nesse arco de absurdos, cabem motivações de diferenças ideológicas, preconceitos, disputas orçamentárias, relações amorosas, vinganças, recalques, ciúmes, e tudo mais que joga a objetividade do auditor interno na lata do lixo.

 

Para além da questão ética envolvida, essa postura do machão da auditoria, que acerta as suas contas com os seus trabalhos, é fonte de isolamento desse profissional, sujeitando-o aos joguetes do poder, e o mais grave, ferindo a credibilidade de seus relatórios, entendidos pela comunidade da organização como peças motivadas por orgulho ferido e por questões pessoais. Um problema que afeta organizações públicas e privadas. 

 

A objetividade alimenta a autonomia, ambas necessárias à excelência no ofício do auditor interno. Valores que andam juntos, pois se o profissional tem a liberdade para escolher os seus caminhos, precisa de alinhamento à organização, bem como de isenção, para que esses caminhos sejam lidos como legítimos por aquele microcosmo. E sem credibilidade, é impossível conduzir de forma minimamente razoável essa função.